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CONHECIMENTO

Ifá e suas raízes

Assim sendo, os nossos Odu / Fundamentos da Tradicão afirmam que a Existência transcorre em dois grandes planos :

1 - Aiye / Mundo Natural ou Terra-da-Vida;

2 - Orun / Mundo Sobrenatural ou Além. Mas esses dois grandes planos de Existência não são assim tão distintos, pois os Versos dos Contos de Ifá contam que as Entidades Sobrenaturais já "viveram" sobre a Terra no Ode Aiye / Local Terreno das Divindades, quando elas aqui vieram reger a Criação do Mundo Natural. Além disso, esta tradição religiosa afirma que tudo o que existiu, existe ou existirá no Mundo Natural foi plasmado no Mundo Sobrenatural e lá tem o seu exato Duplo. Desta sorte, todos os Seres existentes são denominados por um só termo :

3 - Ara / Corpo ou Ser. Estes Seres podem ser, conforme as suas qualidades :

3.1 - Ara Orun ou Seres do Além : 3.2 - Ara Aiye ou Seres da Terra.

Os Seres do Além (3.1) dividem-se em duas categorias principais :

3.1.1 - Os Imole / Seres Sobrenaturais Divinos, em suas diversas qualificações, os quais estão associados à estrutura do Cosmo e da Natureza Terrestre;

3.1.2 - Os Onile / Senhores da Terra ou, ainda melhor, os Ancestrais, aqueles entes falecidos que por suas ações passadas foram semi-divinizados por seus descendentes, sendo que, embora estejam no Além não são Divindades e estão ligados à estrutura da Sociedade.

Os Versos dos Contos de Ifá falam com freqüência em 600 (seiscentos) Imole (3.1.1 ), classificando-os em 400 (quatrocentos) Irun Imole ou Irunmole e em 200 (duzentas) Igba Imole ou Igbamole : "Awon Irinwo Irunmole oju kotun, ati awon Igbamole oju kosi."

"Muitos Irinwo Irunmole do Lado Direito e muitas Igbamole do Lado Esquerdo." Mas, isto significa muito mais que os Imole podem ser e são considerados como divididos em Divindades Geradores (Irinwo) e Divindades Gestantes (Igba) e todos os pesquisadores eruditos e os religiosos africanos também estão de acordo em considerar lógica a tradição de que estes 600 Imole são um número místico com a função de emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que importa em dizer-se que eles, os Imole, são uma grande quantidade desconhecida.

No que todos também concordam é que existem graduações de ordem, digamos, funcional, nesse grandioso conceito de Divindade, as quais se situam nos Meseesan Orun / Nove Além, ou, melhor dizendo, os Nove Planos de Existência desta Tradicão.

Todos estes Planos de Existência no Além, os quais seria fastidioso tentar aqui definir, têm a Ile / Terra, como eixo central e comum de suas esferas de ação e, portanto, como ponto de passagem e de retorno para que todos os Seres por ela, a Terra, intercambiem os seus planos de existências diferenciadas.

Para isso, necessitam de um meio, quer ele seja os seus sacerdotes ou os seus Filhos-de-Santo ou, preferencialmente, seus lugares sagrados e devocionais, tal como era o caso dos Origi / Montículo Sagrado do Orisa Orunmila na Cidade Santa de Ilê Ifé em áfrica ou como é o caso atual dos "Assentamentos" e "Congás" dos Umbandistas.

Daí a Terra ser invocada e chamada a testemunhar em todos os tipos de pactos, particularmente em relação à guarda de segredos. Ki Ile Jeeri / que a Terra testemunhe é a mais ritual das fórmulas empregadas em juramentos solenes e daí que todo o Assentamento de um ôrixá deva ser baseado na Ota / Pedra que lhe seja própria, "assentada", consagrada e "alimentada" por seus fiéis e estes dizerem : -"A força dos Orixás está na pedra "- O que eqüivale a dizer-se : na Terra ! Portanto, como disse anteriormente, Terra e Além estão indissoluvelmente interligados em minha mente e daí também saber que todos os Além podem se intercambiar nesta Terra-da-Vida e que todos os seres que nela existem, mesmo os inanimados, possuem uma centelha (ase) da Vontade Divina (aba) que os criou e os faz existir (iwa). Daí muitos desavisados tratarem os fiéis aos Orixás por "animistas", misturando o conceito de "centelha divina" com o conceito de "alma" de suas próprias filosofias religiosas.

Assim sendo, no mais alto dos Nove Além, denominado Ajal'orun / Teto do Além, portanto, no ápice do poder espiritual, está OLORUN / DEUS, justamente Aquele (O) + que tem (LI) + o Além (ORUN). Ele é o Ala Iwa Aba L'Ase / Supremo Criador dos Princípios e Poderes que tornam possíveis e regulam toda a Existência em todos os seus Nove Planos :

- o Iwa ou Poder da Existência; - o Ase ou Poder da Realização que dinamiza a Existência; - o Aba ou Poder da Essência que dá propósito ao Poder de Realização.

Daí o distanciamento que todos os outros Seres têm que Dele manter, pois nada na Criação é capaz de suportar-Lhe o magnífico esplendor ! Daí, também, que nenhuma Oferenda Lhe pode ser entregue diretamente e Ele somente a receberá através de Seu Mensageiro Divino : o lmole Esu Osije.

Consoante este conceito universal de Deus, Incriado e Criador, OLORUN não tem culto específico e nem sacerdócio particularizado. Mas, apesar disso, Ele não é tão remoto ou indiferente aos assuntos humanos. Pelo contrário, Ele está sempre muito próximo de nós : as preces e os apelos sinceros do coração humano O alcançam e Ele os responde através do ôrixá ôrunmilá e sua Divinação Sagrada de Ifá.

A seguir, no segundo lugar na Hierarquia da Tradição, criado por OLORUN com seu próprio Hálito Divino, vem Imole Orisanla, de Orisa (ôrixá) + Nla (Grande), o Grande ôrixá. Ao mesmo tempo, OLORUN criou Igbamole Iyangba, de Iya (Mãe) + Ni Gba (que recebe), aos quais delegou os poderes para a geração e gestação de todas as condições para que os Seres existissem no Além e na Terra.

Em terceiro lugar, também foi criado diretamente por OLORUN, com a Eerupe / Lama, mistura de água e Terra, mas também vivificada por Seu Hálito Divino, o Imole Esu Agba, o Terceira Cabaça, ou ainda, o êxú Ancestral, o Imole da Dinamização, da Transformação e da Restituição, quer no Além ou quer na Terra-da-Vida.

Por isso, ele é importantíssimo em todos os Credos que se sintetizaram à partir da religião dos Orisa / ôrixás e embora não possa ser citado corretamente como um deles, os quais são exclusivamente os Seres Sobrenaturais da Brancura, sua qualidade de Terceiro Criado diretamente por OLORUN o torna seguramente em um Imole / Ser Sobrenatural de Origem Divina, altamente especial e único por ser o primeiro Ara Orun / Corpo do Além, ou seja, a Primeira Individualidade Espiritual a ser criada diretamente da Matéria Combinada : Fogo (espírito), Ar (hálito divino), água e Terra (lama).

Em seguida, houve a Criação de todos os Awon Imole, os muitos Seres Sobrenaturais Divinos, porque ainda criados diretamente por OLORUN, ou seja os Muitos Irunmole (Orixás) da qualidade do Branco (funfun) e as muitas Igbamole (Iyami) da qualidade do Preto (dudu), as quais viriam gerar muitos outros Imole considerados como Omode Okunrin / Descendente Masculino e Omode Obirin / Descendente Feminino desses relacionamentos, todos estes últimos relacionados com a qualidade do Vermelho (pupo), e, ainda, com as composições do Vermelho, Branco e Preto.

Assim, os Seres Sobrenaturais de Origem Divina, correlacionam-se em : - Orisa / ôrixás pertencem ao Lado Direito, ao Poder Gerador Masculino, à Primeira Classe de Poder (o Poder da Existência), expressado materialmente pela cor Funfun / Branca. Conheceram-se 50 (cinqüenta) deles que são considerados não gerados mas geradores, sendo que estes são os que realmente merecem o nominativo de ôrixá / Divindade da Brancura. Entre eles podemos citar : Orinsala e Orunmila-Ifa. - Iyami (Minha Mãe) pertencem ao Lado Esquerdo, ao Poder Gestante Feminino, à Terceira Classe de Poder (o Poder da Essência), expressado materialmente pela cor Dudu / Preta. Conheceram-se muitas delas que são consideradas não geradas mas gestantes, sendo conhecidas também pelo nominativo Ebora. Entre ela podemos citar : Oduduwa e Yemideregbe ( Aquela que vem da Lagoa; no Brasil, Iemanjá = A Mãe dos Filhos-Peixes ) - Omode Okurin e Obirin, "Filhos" e "Filhas" gerados pelos Orisa e Iyami pertencem à Segunda Classe de Poder (o Poder da Realização) expressado materialmente pela cor Pupo / Vermelha, ou então, por múltiplas combinações das três cores-símbolos : Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se à Direita ou à Esquerda, conforme os seus designativos :

* Os "Filhos", classificam-se à Direita, e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Funfun / Brancura, são também denominados por Orisa Omode Okunrin / Orixá Descendente Masculino; * As "Filhas", classificam-se à Esquerda, e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Dudu / Preto, são tratadas por Iyami, porque este termo também pode traduzir-se por Senhora (iya) Minha (mi), o que gerou muitas confusões posteriores entre Mães Gestantes e Filhas Geradas, quando da transposição, durante o cativeiro no Brasil, da Teologia em língua Iorubá para as Lendas contadas em língua portuguesa estropiada. - Imole Esu, que pertence à uma categoria única e exclusiva, nem gerado e nem gerante, na sua posição de Terceiro Criado por OLORUN e pertence à Direita e à Esquerda, pois como Mensageiro Divino anda por todos os Nove Além, e, por ser o Grande Dispensador do Axé das três Classes de Poder ( Iwa, Aba e Ase ) carrega em seu Ado Iran / Cabaça Mágica as múltiplas combinações das três cores-símbolos, por delegação unânime de todos os Orisa, as Iyami e os Omode Okunrin e as Omode Obirin.

Toda essa classificação (hoje conhecida como parte da Dijina dos ôrixás) é muito importante quando dos rituais de "feitura" dos fiéis e/ou do "Assentamento" de um Imole num lugar devocional mas, no Brasil, após a perda de valores iniciatórios causada pela escravidão e a catequese forçada, mais a conseqüente reunião de todos os Seres Sobrenaturais em um só espaço físico - inicialmente o do Candomblé de Nação - o apelativo de "ôrixá" firmou-se para designar a todos os Seres Sobrenaturais indiscriminadamente, quer fossem da Direita ou da Esquerda, ou, quer fossem "Pais", "Mães" ou "Filhos", quer, ainda, fossem da qualidade do Preto ou do Vermelho. Alguns, até chamam êxú por "ôrixá" porque pressentem sua importância, mas desconhecem sua verdadeira essência !!! O principal Imole Orisa Funfun é a Grande Divindade da Brancura, o Orisa Nla / Grande ôrixá, também conhecido por outro de seus títulos : Obatala - de Oba (Senhor) + Ti (Tem) + Ala (Veste Branca), o Senhor que tem a Veste Branca e que é o Parceiro Gerador do Casal Divino que, por beneplácito e ordem de OLORUN, gerou e regeu toda a Criação.

No Brasil, este ôrixá ficou mais conhecido pela contração do termo Orisa Nla em ôrixânlá, depois em ôrixalá e posteriormente criando-se a nova fonética "Oxalá", sob a qual é muitas vezes confundido com OLORUN e, outras vezes, sincretizado com as características esotéricas do Senhor Jesus, o Cristo.

A principal Igbamole Ebora Dudu é a grande Divindade do Preto, a Igbamole Iyangba Oduduwa que é a Parceira Gestante do Casal Divino, mas que está praticamente esquecida no Brasil. Como esquecidos estão Oranfe, Agbona, Erikiran, Erinle, Oluwa, Oke, Agbala, Ikire, Hoho, Ija, Olufon, Eteko, Oluorogbo, Oluwonfin, Oxaogiyan e, assim, mais tardiamente, a própria a Umbanda Esotérica fixou seus parâmetros sobre as características esotéricas de apenas seis Irunmole e uma Iyami, mas também chamando a todos por ôrixá : Oxalá, Ogum, Oxosse, Xangô, Yemanjá, Yori (Ibeje), Yorimá (Obaluaiye). E na Criação, como conseqüência da existência de vida na Terra, apareceu a outra classe de criaturas Ara Orun da Religião dos Orixás : os Onile (3.1.2), de Oni (Senhor) + Ile (Terra), ou seja, os Senhores da Terra.

Estes Seres do Além que tiveram as suas Ori Orun / Cabeça-no-Além também criadas por OLORUN, puderam tornar-se em Seres da Vida e sobre a Terra-da-Vida existir para consumar o seu Iwa / Destino com a própria Ori Inu / Cabeça-Interna ou Individualidade Terrestre, para no seu Ol'ojo / Dia Marcado retornar ao Além para acrescentar a seu Duplo no Além ou "matriz espiritual primordial", todos os méritos ou deméritos de suas ações praticadas na Terra-da-Vida, adquirindo, após a primeira desencarnação, a qualidade de Onile / Ancestral.

Não nos estenderemos aqui muito mais sobre os Onile / Senhores da Terra ou, também, Ancestrais. Tal assunto merecerá palestra à parte. Apenas citaremos que esta foi a parte da Teologia Iorubá mais absorvida pela Umbanda do Brasil e apenas citaremos qual o relacionamento dos Onile para com Orixás e Eboras.

Assim sendo, ainda que seja perante OLORUN que cada Ara Orun e/ou Onile deva "ajoelhar-se" para pedir o seu novo Destino antes de encarnar-se, sendo Ele o seu verdadeiro Eleda / Criador, ao renascer na Terra-da-Vida para cumprir esse destino adrede solicitado, o novo Ser Vivente está ligado a algum Irunmole ou Igbamole, que lhe "emprestará" algumas qualidades de sua matéria primordial ( Axé do Branco, do Preto ou do Vermelho ). Desta forma, na Terra-da-Vida, este novo Ser Vivente deve devotar-se a algum Orixá e/ou Ebora ou por ele/ela ser "possuído" no transe mediúnico.

Este Orixá ou Ebora, depois de detectado e confirmada a sua influência sobre o novo Ser Vivente pelos processos da Divinação Sagrada de Ifá, é considerado como o "possuidor" da Ori Inu / Cabeça Interna, ou seja, da nova Personalidade Individual Terrestre daquele Ser e/ou Ancestral novamente encarnado, ou seja, o seu Oluware, portanto, e no máximo, o seu Oba Mi / Meu Senhor ou Iya Mi / Minha Senhora, pois que o seu verdadeiro Criador sempre foi, é e será Deus.

Compreendido tudo isso, podemos agora identificar quem é o Senhor da Casa da Vida :

o ôrixá Orunmilá-lfá. Ara Orun / Ser Sobrenatural ;

Imole / Ser Sobrenatural de Origem Divina ;

Irunmole Oju Kotun / Ser Sobrenatural Divino Masculino do Lado Direito ;

Orisa Funfun / ôrixá Não Gerado mas Gerador do Poder da Brancura.

Sua qualificação completa seria, pois : Ara Orun Imole Irunmole Oju Kotun Orisa Funfun Orunmila Ifa

Ele é o Arauto dos Desígnios Absolutos de Deus sobre o Destino de todos os Seres Terrestres, destino este que pode ser confirmado ou corrigido pela Divinação Sagrada de Ifá, para que cada Ser aqui nascido procure cumprir muito bem aquilo que ele próprio solicitou a OLORUN antes de encarnar-se. .

Trabalho de Umbanda
Entendendo IFá
Ifá e suas Raízes
Ifá e Orunmilá